Comunicades deste mês

Comité Central, terça-feira, novembro 01, 2005

  Otas & otários





O Ministro das Obras Públicas voltou à carga com a história do TGV e do novo aeroporto. Depois de no governo ter afirmado que que estava insatisfeito com a actual solução de construção na Ota e que no próximo ano só se iam fazer estudos (que ou não há ou não são públicos) porque o país 'tá de parra (de tanga era no tempo do outro). Agora numa reviravolta supreendente o mesmo Ministro das Obras Públicas vem dizer que "yes, tamos nessa" e Sócrates diz que afinal a Ota e o TGV são compatíveis com o rigor orçamental.

Vai custar 3.000 milhões de euros, dos quais o estado "só" vai entrar com 10%, ou seja, 300 milhões. Alguém que se lembre do Centro Cultural de Belém, da Expo 98, da Ponte Vasco da Gama, do Euro 2004, etc., acredita nisso? Seguindo o exemplo daqueles projectos o total do aeroporto e obras acessórias não vai ficar em menos de 5.000 milhões de euros e o estado não deve gastar menos de 1.000 ou 1.500 milhões de euros nisso.

E qual é a necessidade, funcionalidade e adequabilidade desta megalomania? É necessária, há alternativas? As previsões de crescimento de tráfego são realistas? Alguém se lembra de Sines? Não vamos ter aqui um novo elefante branco, ou neste caso, cor de rosa?

Ninguém sabe. Não há estudos sérios que sejam do conhecimento público e que justifiquem esta opção. O que se sabe é que há lobbies poderosos por detrás de tudo isto e que o lobbie da Ota parece que ganhou.

Mudam-se os tempos mudam-se os lobbies. Quando a localização da Ponte Vasco da Gama foi escolhida justificou-se esta, em detrimento da muito mais lógica, curta e barata opção multifunções rodo-ferroviária Barreiro-Chelas, com a localização do novo aeroporto em Rio Frio. Mas essa localização tinha poucos terrenos disponíveis onde especular. Então movimentaram-se os cartéis, compraram-se os terrenos para especular no Montijo e a ponte fez-se. Agora são necessários novos terrenos com que especular, novos lobbies entram em cena e a Ota salta prá frente. O novo aeroporto até já tem um site...

Técnicamente a escolha não podia ser pior, a não ser que o quisessem fazer no cimo da Serra da Estrela. A construção vai ser uma dor de cabeça, há montes e elevações nas zonas circundantes de aproximação, obstáculos e povoações à volta, linha férrea na cabeceira das pistas e a coisa fica num terreno que está permanentemente meio alagado conforme mostram estas fotos do local de construção. Sem dúvida, o sítio ideal para construir o novo aeroporto de Lisboa, mesmo, mesmo ao lado de Lisboa. Além disso está no meio de uma zona ecológica protegida, se bem que isso pouco interesse aos lobbies. Quem quiser obter alguns pormenores mais técnicos da construção e da problemática ecológica pode visitar o Alambi

Mas para quem anda nestas coisas do ar será que a escolha faz algum sentido?
Difícilmente um aeroporto 50 Km mais a norte faz alguma diferença. Contudo também não o faz se for para sul, para leste ou para oeste. Em termos de clima é o mesmo, desde que as ajudas à navegação, aproximação e aterragem sejam boas não deve haver grande problema. O principal são as restrições por causa das zonas habitadas e os obstáculos nas zonas de aproximação. E a Ota tem má nota em ambos.

Qual era o local ideal de todos os que se falou? Francamente Rio Frio.
Situa-se numa zona plana, sem obstáculos e sem grandes restrições devido a áreas habitadas. As pistas podem ter quilómetros, a área pode ser resguardada para extensão, quer no número de pistas quer no comprimento destas, o terreno é seco e a construção facilitada. Num imprevisto as zonas circundantes são planas e de fácil acesso. Está a 3 Km da autoestrada e a 14 Km da Ponte Vasco da Gama. Parece bom demais para ser verdade?

Mas é, por isso é que a Ota foi escolhida...
Está a 50 Km de Lisboa, necessita de muito mais construção, complicada e cara e de um novo ramal de autoestrada. Também requer obras adicionais para fazer passar por ali TGVs, túneis, viadutos e demais coisas para conseguir fazer tudo isto circular. Além disso acede-se a Lisboa pela autoestrada do Norte, um acesso nada congestionado. Pois é, mas a construção civil precisa de estímulo e a Ota tem por trás os lobbies certos neste momento.

Agora pergunta-se, mas precisamos mesmo de construir um novo aeroporto megalómano? Não haveria soluções mais baratas? Assim como assim somos um país teso, sem guita, sem caroço, não dava jeito poupar uns cobres? Bem, se não "investirmos" no aeroporto não conseguimos ir buscar verbas para isso à União Europeia. E se não formos buscar lá massas os lobbies não se podem encher. Se os lobbies não se encherem não vai haver lembranças para ninguém neste governo e associados. Também não entra nem se dispende mais dinheiro no país, a economia não descola e ficamos cada vez mais na mesma. É um dilema do 'caraças'...

Mas há soluções mais lógicas para o problema, que passam, desde logo, por manter o aeroporto da Portela a funcionar. Não faz o mínimo sentido desperdiçar todo o dinheiro que está lá enterrado. Só que isso vai cortar as pernas aos especuladores que já se posicionam nos terrenos à volta do actual aeroporto e se preparam para deitar as luvas ao terreno do próprio aeroporto. É um "negócio" imobiliário várias vezes melhor que o dos terrenos da Ota. Aquilo vai ser a nova alta de Lisboa. Quando chegar a altura aqueles terrenos não vão valer menos de 500 milhões de euros. Estes lobbies estão-se nas tintas para onde vai o novo aeroporto desde que o velho sai dali.

Quem anda no chão pode não perceber muito bem a configuração espacial da coisa. É preciso ter a cabeça no ar, bem lá no alto, para ver que sentido fazem as várias propostas e que sentido fazem as alternativas. Hoje em dia já nem é preciso ir à Força Aérea pedir fotografias ou arranjar cartas aéreas do espaço nacional: basta ir ao Google Earth para se poder ter uma noção da coisa.


Vejamos uma vista aérea de Lisboa com a indicação das principais pistas actuais. Tirando Portela e Cascais o resto são tudo aeródromos militares:




Este é o aspecto do aeroporto da Portela visto de cima. Aqui estão as suas características:




Esta é a Base Aérea do Montijo, que tem estas características e a pista principal não está exactamente à míngua, ainda pode crescer:




Este é o aeródromo de Alverca, que tem estas características:



Estes 3 sítios são a base de uma solução alternativa que é viável, prática, muito mais barata e se traduz por um melhor aproveitamento dos equipamentos existentes em vez de se embarcar em projectos megalómanos. Trata-se de desactivar a Base Aérea do Montijo, que tem um dos traçados mais bonitos que se conhecem e que está completamente subaproveitada, e fazer daquilo um aeroporto alternativo, ou de preferência principal. Pegar no aeródromo de Alverca e transformá-lo num aeroporto para voôs domésticos. Os 3 em conjunto concerteza que assegurariam as necessidades de tráfego por muito mais décadas, são todos perto de Lisboa e já estão meio construídos. Além disso, problemas num deles não afectariam os outros permitindo que os alternativos continuassem a funcionar e nisto, como em tudo, nunca se devem pôr todos os ovos no mesmo cesto. A história do "espaço aéreo congestionado" não pega, senão um novo aeroporto único tinha à partida esse problema. Não são as localizações ideiais em termos de aviação, mas já lá estão. Claro que seriam bem mais baratos e não haveria muito por onde os lobbies pudessem especular, portanto é uma solução que não interessa.

Vejamos pois as alternativas de um aeroporto megalómano: Ota e Rio Frio.


Este é o enquadramento e a localização das duas alternativas na zona de Lisboa:




Isto é o actual aeródromo da Ota, na zona de Alenquer, que tem estas características. A zona de construção do novo aeroporto, a 50 Km de Lisboa pela autoestrada do Norte, situa-se em área protegida, existem montes e elevações nas zonas de aproximação, povoações à volta, linhas férreas na cabeceira das futuras pistas e está em terreno parcialmente alagado:






Isto é a pista privada situada na herdade de Rio Frio, em Pinhal Novo, mais ou menos na zona onde se propõe a construção do aeroporto e que actualmente tem estas características. Está situada numa zona completamente plana e livre apenas com sobreiros e algumas instalações da herdade, sem zonas de habitação ou linhas férreas à volta, circundada com terrenos agrícolas, que havia todo o interesse em manter a bem dos imprevistos aéreos, mais ou menos a 3 Km da autoestrada...


... e a 14 Km da ponte Vasco da Gama:



Agora digam lá qual é a melhor localização, qual é?
A Ota, claro, é a que tem o bolso mais fundo!

O problema é que, para se encherem alguns, estão a empenhar deliberadamente o futuro de todos os nossos filhos.
Não se esqueçam que 'à pala' de coisas destas ainda estamos a pagar Cabora-Bassa...

Mayday, mayday...

  Bocas da reacçãm:

Que mais dizer?...
 

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